Nesta rua onde me encontro...

Ao longe Monsanto apresenta-se espraiada de verdura
Com o Tejo a querer vir beber a seus pés.
Na rua onde me encontro vejo pessoas perdidas
Talvez à procura de um novo rumo para si e para os seus.
No meio da labuta diária conseguem arranjar um tempo para si?
Talvez não...
Também não é isso que procuram...
A sua mente gira em torno de como será agora que o juro aumenta
Ou que o salário estagna...
Pensam nos filhos que crescem mais depressa que os seus bolsos
E que com os olhos tudo comem...
Pensam em como seria bom chegar a sexta feira e ganhar a sorte grande
Sem se aperceberem que muitas das vezes nem jogam...
É nesta rua em que me encontro
Que percebo que a vida não sorri a todos da mesma forma,
Pois lá em baixo está o já habitual pedinte desta rua.
Mas apenas neste momento me apercebo de algo estranho:
Em toda a rua ele é o único a sorrir...
Estranho? Nem tanto...
Ele não pensa no amanhã, para ele o futuro é agora
E pensando bem, o passado também já foi ontem...
As prestações da sua casa são discutidas todos os dias
De dia com o Sol, à noite com a Lua...
E quando todos pensam que ele é o mais triste desta rua
Ele sorri...
E sorrio também...
Afinal, não é só o pedinte que se sente feliz hoje...
Saio e sento-me a seu lado...
E logo vejo que o mundo visto pelos seus olhos tem outras cores...
Esta rua em que me encontro neste dia
É a mesma onde me encontro todos os dias...